Ele já nasceu grandioso. Na arquitetura, na infraestrutura,
na capacidade de público, na abrangência de atividades. Inaugurado em 2008,
teve 12 anos de atividades e foi desativado em 2020. Agora, o Teatro Municipal
Paulo Gracindo, de Paulínia, volta à cena com um processo de concessão
apresentado em audiência pública realizada na última segunda-feira, dia 29 de
janeiro. A expectativa é que o edital seja publicado em março, mas a data ainda
não foi confirmada oficialmente pelo secretário de Esportes, Cultura e Turismo,
Alexandre Fávaro Corrêa, que após a audiência se negou a comentar o assunto.
Grupos de artistas locais aguardam o edital e se organizam para questionar
formalmente aspectos técnicos e jurídicos da Concessão.
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A proposta de concessão feita pela Prefeitura Municipal
encontra resistência por parte de pessoas ligadas à área cultural e que
entendem a privatização como um processo que irá elitizar o teatro, diminuir o
acesso às artes e cultura para a população de menor renda, permitir o uso
seletivo do espaço e escolha de produções de acordo com a possibilidade de
lucro, com prejuízo para os artistas locais. "É papel do poder público
garantir a pluralidade artística e o acesso do público, por isso não se privatiza
a cultura", afirma o produtor cultural Benê Silva, que já atuou como
diretor artístico do Teatro Municipal Manoel Lyra, em Santa Bárbara Doeste
(1996-2001), do Teatro Iguatemi (2013-2016) e atuou também na área teatral em
Paulínia desde 1993, inclusive como diretor do Departamento de Teatro até 2012.
Na apresentação feita durante a audiência realizada com a
presença de aproximadamente 30 pessoas no auditório Carlos Tontoli do Paço
Municipal - a proposta da Prefeitura é "delegar a terceiros para investir
(adequar, ampliar e reformar) e explorar, por sua conta e risco, se remunerando
com a exploração". A concessão, segundo a apresentação feita no evento,
abrange a reforma e manutenção da edificação, das áreas verdes do entorno e a
administração, operação e exploração do teatro e estacionamento, inclusive com
permissão para realização de eventos ao ar livre no entorno do teatro. O prazo
de concessão é de 20 anos (prorrogável por igual período) e a estimativa de
investimentos em obras de restauração é de aproximadamente R$ 4,7 milhões.
OUSADIA E DESCASO
A obra projetada pelo arquiteto Ismael Solé foi considerada
uma das mais ousadas e com melhor infraestrutura do interior paulista, com 1389
lugares, custou R$ 53 milhões e foi construída em dois anos (2007-2008).
Fechado desde a pandemia, o prédio exibe hoje sinais externos de abandono,
vandalismo e destruição. Artistas locais comentam que a parte interna sofreu
furtos de fios e cabos, há danos nos camarins e em outras instalações. E
funcionários que já trabalharam no local, comentaram recentemente (2022) em
entrevista ao Correio Popular, que há outros problemas envolvidos, como
documentação desatualizada, dívidas de energia elétrica e impostos municipais
atrasados.
O produtor cultural Benê Silva comenta que "o desmanche
cultural vem acontecendo na cidade há anos, e entregar o teatro para a
iniciativa privada é jogar uma pá de cal na cultura, é um prejuízo que impacta
toda a região". Ele diz que na audiência pública não foi apresentado um
detalhamento dos danos do teatro e indaga as razões que deixaram o imóvel
chegar a essa situação de abandono, já que o fundo de cultura do município
recebe um percentual do ISS arrecadado. Benê criticou ainda a entrega de um bem
público à iniciativa privada sem nenhum estudo de impacto, nem informações
sobre exigências de contrapartidas, fiscalização e outras.
UM LOCAL DE REFERÊNCIA
Inaugurado em 4 de julho de 2008 com show de Maria Rita e a
exibição do documentário "O Mistério do Samba", de Carolina Jabor e
Lula Buarque de Hollanda, o Theatro Municipal de Paulínia chegou à cidade
causando impacto. Foi "batizado" por Fernanda Montenegro, pois, com
ele, também era lançado o I Festival Paulínia de Cinema, grande promessa para
impulsionar o cenário cinematográfico realizado pelo Pólo de Cinema da cidade.
De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura na época, o projeto adotou o padrão do Dolby Theatre, em Los Angeles, onde a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood realiza sua cerimônia de entrega do Oscar. O espaço foi projetado para ser multiuso, dando lugar para espetáculos de música erudita, artes cênicas e sessões de cinema. Local único na região, virou símbolo cultural. O teatro conseguia receber apresentações grandiosas graças a uma parruda estrutura acústica e cenográfica que permitia mudanças de cenário.
Localizado na Av. José Lozano Araújo nº 1551 no Parque
Brasil 500, próximo ao Paço Municipal, o teatro está localizado em área total
de 42,4 mil m², sendo 4,3 mil m² de construção com pavimento de 10,8 mil m², e
outros 27,3 mil m² de jardins e calçadas. A audiência pública realizada para
ouvir a população sobre a proposta de Concessão durou mais de três horas, foi
gravada e está disponível no youtube.com/ prefeituradepauliniasp.
Fonte: Correio Popular
